segunda-feira, 13 de abril de 2015


Chegamos aqui trazidos pela propaganda enganosa: e para onde vamos?

Cálculos mais ou menos oficiais (não foi em toda cidade que a PM fez uma avaliação) falam em mais de oitocentas mil pessoas nas ruas. Se esse número é bem menor do que o de manifestantes em março, não se pode dizer que é pouca gente. O dado mais importante porém é o da última pesquisa Datafolha que aponta um apoio de 75% da população às manifestações. O aumento do número de pessoas que apoiam os atos comparado com o menor número de pessoas que se mobilizaram para ir às ruas neste domingo evidencia algo que só pode ser compreendido com outro alto índice: o de pessoas que querem, mas não acreditam que o impeachment será levado adiante. Se não vai dar certo, por que ir às ruas?

A grande incógnita, presente nas duas últimas grandes manifestações, é o rumo que a insatisfação pode tomar nos próximos meses. Está evidente que o movimento vive um impasse; na mesmice em que se encontra, não vai avançar. Em situações históricas talvez semelhantes, o desdobramento de um movimento aparentemente sem saída alimentou tendências opostas que, de um modo geral, assumiram o desânimo ou a revolta. Para o governo é mais interessante o desânimo do que a revolta, e é por isso que todos os porta-vozes oficiais, inclusive Dilma, insistem que o movimento pacífico é democrático, mas que a violência não será tolerada. Sendo de esquerda (???), a presidente sabe que a violência é parteira da história (Engels). E, se houver parto, nascerá uma situação da qual a presidente atual não fará parte.

A insatisfação com esse governo é alta. Apesar de Dilma ter abandonado a reclusão pós-eleitoral, sua presença recente na mídia não mudou o índice de rejeição do governo, que permanece no patamar de 60% (ruim ou péssimo). A ideia falida é a de que discursos mudam a realidade. Mas o fato é que mil palavras associadas a mil minutos de exposição não vão melhorar o índice de inflação nem a oferta de emprego! Mas esse governo chegou aí trazido pela publicidade, então eles acham que a publicidade milagrosa resolve tudo!

Afora a visão artificialmente otimista do governo, os economistas dizem que 2015 vai ser ruim e 2016 ainda está cedo para se prever alguma coisa com alguma chance de certeza. Como está claro que o mundo das maravilhas apresentado pelo PT durante a campanha presidencial era propaganda enganosa, e como a situação econômica tende a piorar até o final do ano, o descontentamento pode criar desesperança, desilusão, desencanto, ou, por outro lado, pode assumir a forma de revolta. Revolta contida, desorganizada, radical, revoltinha, revoltona: ainda não dá para saber. Vai depender da alternativa que se apresentar para os descontentes. O governo e o PT não têm alternativa aceitável no curto e no médio prazo. Os políticos melhoraram um pouco na avaliação sobre a confiança da população, mas ainda não há uma voz que canalize o descontentamento público. Por outro lado, os black blocs estão sumidos e calados, mas a esquerda radical e silenciosa pode começar a fazer barulho de repente.

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