terça-feira, 31 de março de 2015


Marta, Lula e o PT (teoria da conspiração)

Com as dificuldades crescentes do governo, no campo da economia, da política e da ética será mais difícil Lula e o PT ganharem as eleições em 2018. A não ser que Lula e o PT passem para a oposição. Claro que será uma oposição dentro da legalidade, sempre acusando a oposição atual de golpistas.

– A ida de Marta Suplicy para o PSB faz parte do plano, continuou Baturé. Lula e a senadora são amigos inseparáveis. Já estou até vendo o PSB apoiando Lula em 2018.

Objetei que ela saiu bombardeando o PT.

– Ela é candidatíssima à prefeitura de São Paulo. E lá, você tem 82% de chance de ganhar eleição se criticar o PT. Veja como as coisas se encaixam: ela decretou a morte do PT e, menos de um mês depois, o Falcão propôs o renascimento. Foi o que ele falou no encontro de militantes do dia 24 de março. Renasce quem morre. Falcão concorda com Marta.

Mas Lula disse que Dilma não pode sair pela porta dos fundos, objetei. Até 2018 ela tem de colocar ordem na casa.

– Pois é, mas se ela continuar se dirigindo para a porta dos fundos, só vai sobrar para Lula o caminho da oposição. Tem gente que diz que Lula não gosta do Mercadante. Mas o atual chefe da casa civil é um mal necessário para o ex-presidente. Para vencer as próximas eleições, Lula vai para a oposição, em uma situação em que criticar diretamente Dilma é criticar a si mesmo, pois o criador critica a si mesmo ao criticar a criatura. Então vai sobrar para o Mercadante, que, além do mais, é um concorrente interno.

segunda-feira, 30 de março de 2015


A estratégia de Lula (teoria da conspiração)

Durante a campanha presidencial, ouvimos e lemos, mais de uma vez, que Lula estava afastado, sem participação expressiva nos rumos dos acontecimentos, sem ação militante a favor de sua candidata. Especulou-se que havia divergências entre eles. Que diferenças seriam, ninguém soube levantar uma hipótese convincente. Talvez uma delas fizesse sentido: na primeira eleição da candidata, ninguém a conhecia, então ou o Lula fazia propaganda ou ela nunca teria a visibilidade necessária para enfrentar a situação. Já agora, uma atuação mais ostensiva poderia ter o efeito contrário, o de ofuscá-la. Seu sumiço seria então resultado de um cálculo bem pensado, seria uma estratégia eleitoral. E o Lula desmentiu qualquer problema que pudesse haver entre eles, aparecendo aqui e acolá em alguns palanques. Sua presença, no entanto, foi muito tímida, considerando seu histórico de aficionado por palanques e microfones.

Um amigo meu, o Baturé, na sua ingênua esperteza, disse que eu estava sendo ingênuo, acreditando no que diz um candidato, aceitando como verdade o que diz a mídia.

– São todos maquiavélicos, eles não dão ponto sem nó, o que eles dizem tem a duração de um risco n’água!

Ele explicou-me que, na avaliação do ex-presidente, Dilma não conseguiria achar uma solução para o estrago na economia, pois já eram 12 anos de uma política social exitosa, porém acompanhada de política econômica equivocada: crescimento baseado no consumo, associado ao descaso pelo combate à inflação, pelas metas fiscais, pelo equilíbrio orçamentário, pelas contas externas e por muitos etcéteras, dentre os quais a corrupção.

A situação estava tão caótica que ninguém conseguiria consertar. Por isso, seria melhor, no entendimento do ex-presidente e futuro candidato, entregar o abacaxi para o PSDB, que aí sim, seria certa a vitória do PT em 2018.

– Você está delirando, Baturé...

Tem mais, continuou ele, se Lula tivesse se empenhado durante a campanha, e mesmo assim a Dilma não ganhasse, o prestígio do Lula diminuiria, e ele teria mais dificuldade de ganhar na próxima.

– Você quer dizer, Baturé, que o Lula trabalhou para a Dilma perder?

Ele continuou me explicando sua teoria da conspiração: era para o bem da Dilma e do PT. Agora, com esse abacaxi na mão, na impossibilidade de cumprir as promessas de campanha, ambos vão se desgastar e será mais difícil Lula e o PT ganharem em 2018. A não ser que... (continua).

Nota. Enquanto analistas políticos se ocupam de entender (e explicar) o que se passa hoje, este post procura visualizar um panorama possível para os desdobramentos dos acontecimentos atuais. Panoramas estão sempre sujeitos a um elevado grau de incerteza.

domingo, 29 de março de 2015


Propina ou extorsão?

As empreiteiras pagavam propina aos diretores da Petrobrás ou os diretores extorquiam as empreiteiras? Estamos diante de uma relação de sujeito e objeto difícil de ser resolvida. Não sou jurista, não sei como resolver essa questão perante a lei. Politicamente, a disjuntiva “ou” pode ser substituída pela conjuntiva “e”: as empreiteiras pagavam propina aos diretores e os diretores extorquiam as empreiteiras! Não sei se essa última formulação tem algum significado jurídico, mas me parece que esta é a que mais se aproxima do se passa em nossa triste realidade. A “normalidade” é essa: propina e extorsão. Indiscutível. É assim que “sempre” se fez! "Uma senhora idosa".

sábado, 28 de março de 2015


Dilma está isolada do povo, do Congresso e até do próprio Planalto!

O índice de aprovação popular da presidente Dilma é bem baixo, sabemos isso desde a última pesquisa Datafolha e as manifestações de domingo retrasado. Sabemos também que sua aprovação no Congresso já foi melhor, bem melhor. Hoje ficamos sabendo que sua aprovação junto ao ministro Levy também é baixa. Ele deixou isso bem claro, apesar de tê-lo dito em recinto fechado. Segundo reportagem de Joana Cunha da Folha de São Paulo, sua frase é a seguinte: "Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno".

A ênfase no “desejo genuíno” não chega a dourar a pílula amarga que a presidente teve que engolir. É claro que muitas pessoas já falaram coisas muito piores da presidente, mas não o ministro que carrega nas costas a responsabilidade de devolver a estabilidade econômica ao país.

Tornar pública a fala do ministro afirmando que Dilma nem sempre age de forma eficaz vai tirar o sono dela.

sexta-feira, 27 de março de 2015


Ela só nomeia quando há retorno político

Muitos cargos que dependem de indicação do Planalto estão desocupados. Além das vagas não preenchidas no Ministério Público e nas agências reguladoras, são duas vagas abertas no Tribunal Superior Eleitoral, 12 nos Tribunais Regionais Eleitorais e, a mais falada delas, a vaga no STF, sem ocupante desde a saída de Joaquim Barbosa (oito meses). Só para efeito de comparação, lembro que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República ficou vaga por DOIS DIAS. Traumann deixou o ministério nesta quarta-feira (25) e Edinho aceitou o convite para ocupar o cargo na manhã desta sexta (27).

Eu me pergunto por que ela é tão ágil em nomear ministro e tão lerda na nomeação desses cargos necessários ao bom funcionamento da República. Penso se isso decorre de ela não ser estadista, mas gerente e, por isso, super-ocupada com afazeres domésticos, sem tempo para outras atividades. Penso se isso decorre da falta de controle sobre esses cargos fora do executivo: tão logo a nomeação é efetivada, o nomeado perde o vínculo funcional com o executivo. É uma relação diferente da que existe no executivo, onde ela pode exercer a costumeira prática de vigiar e punir. Penso se isso decorre de esses cargos não darem retorno político/popularidade, como é o caso das nomeações para o primeiro, segundo e terceiro escalões do executivo.

O PMDB descobriu outro motivo para exercer a independência do Congresso (ou para criar caso com o Planalto, não sei). Vai propor ao Congresso a definição de prazos para preenchimento das vagas.

quinta-feira, 26 de março de 2015


O direito à preguiça

Deveria ser matéria obrigatória da seleção para chefe na carreira do servidor público a leitura de um instrutivo livrinho (o diminutivo é relativo ao número de páginas e não à grandeza da obra): “O direito à preguiça” de Paul Lafargue, genro de K. Marx.

O livro mostra que o lazer é mais importante do que o dinheiro. É válido acrescentar que o lazer é também mais importante do que o poder ou a popularidade. Mas os ventos neoliberais sopram em outra direção, e tem gente que abandona a ética e as leis para conseguir mais dinheiro. Tem gente também que “faz o diabo” para ganhar as eleições, ou seja, deixa de lado o lazer em troca da luta irrefreável pela popularidade, que se coloca a serviço da conquista do poder. Na busca indiscriminada pelo apoio popular, a referência da palavra dita é com o efeito que ela pode suscitar e não com a verdade dos fatos e das propostas.

Esse pessoal encrencado na Lava Jato deveria ter aula de lazer e preguiça. Eles se tornariam mais humanos. Entretanto, para isso, surgiriam dois problemas. O primeiro é que, em nossa cultura neoliberal, seria difícil conseguir professor para a matéria. O segundo diz respeito à natureza dessas habilidades, que não têm a característica de serem aprendidas em sala de aula. Talvez a cana – o ócio obrigatório – tenha mais serventia.

quarta-feira, 25 de março de 2015


Manual de sobrevivência na cela

Não estou preocupado com o bem-estar, com a saúde mental ou com o conforto do pessoal que foi transferido da carceragem da PF para o Complexo Médico-Penal do Paraná. Tampouco estou com pena deles. Eles estão sendo acusados de crimes cuja base é o egoísmo exacerbado. As orientações abaixo de como sobreviver à cana apontam na direção de transformar essa experiência desagradável em uma oportunidade de serem menos egoístas.

1. É muito difícil compartilhar um espaço mínimo com pessoas que não fizeram a opção de viverem juntos. “O inferno é o outro” é a tese defendida por Sartre em “Entre quatro paredes”. Então é bom você aceitar a ideia de que vai viver no inferno por um tempo impossível de se prever a duração. Seja paciente e condescendente. Lembre-se de que você está aí para responder a sérias acusações. Ao primeiro sinal de corrupção, você poderia ter dito: “Tô fora! Aconselho vocês a saírem dessa furada”.

2. Organize o tempo. Defina um tempo de silêncio, um tempo de conversa, um tempo para ligar a TV e um tempo para dar aula (todo mundo sabe de alguma coisa que algum outro está interessado em aprender). No tempo do silêncio, reflita sobre a diferença entre egoísmo, espírito de coletividade e respeito à sociedade.

3. Faça uma lista de reivindicações como, por exemplo, visita íntima, cela individual, acesso a jornais, mais tempo de banho de sol, mais tempo de visita familiar, aparelho de DVD, acesso a uma capela a qualquer hora do dia. Na capela, pense no totalmente Outro, por intermédio do qual você pode aprender a respeitar o outro.

4. Não perca o humor. Não perca tempo pensando no que você está perdendo ficando ali entre paredes tão próximas umas das outras. Esqueça que você é riquinho.

5. Faça alguma coisa com as mãos, como pintar, desenhar ou modelar. Quando não estiver fazendo alguma coisa prática, leia livros de ficção, de preferência aqueles que edificam o ser humano. Abandone livros do estilo: “como enganar o povo” ou “como enriquecer ludibriando as instituições”.

terça-feira, 24 de março de 2015


Se é réu, já está encrencado

Enquanto for réu, não é condenado. Mas a opção maniqueísta – culpado ou inocente – já paira não só sobre sua cabeça como também sobre seu destino. Ele vai ser lembrado dessa situação com injusta frequência para o resto da vida.

Nesta leva da Lava Jato, 26 foram transformados em réus.

Por ter desafiado os deuses do Olimpo, Tântalo sofreu várias punições. Conta-se que em um dos castigos a que ele foi submetido, Tântalo tinha uma enorme pedra dependurada sobre sua cabeça em posição de instabilidade, prestes a cair sobre ele e esmagá-lo a qualquer momento, de forma a mantê-lo sempre ameaçado e inseguro. Outra versão diz que ele estaria sobre uma rocha em equilíbrio instável sempre quase caindo.

Com a decisão da Justiça Federal, estamos diante de 26 Tântalos.

segunda-feira, 23 de março de 2015


Mercadante e o sofá

Depois de sucessivas derrotas do governo no Congresso, o chefe da Casa Civil, que era o negociador, foi substituído, como se ele fosse o responsável pelos fracassos. Ele pode até ter dado sua contribuição negativa, mas culpar o carrasco pela morte do condenado é dar mais importância ao que se vê do que ao que se decide.

É inevitável a comparação com uma história contada por um amigo. Chegando do trabalho antes da hora habitual, encontrou a esposa fornicando no sofá com o vizinho. Revoltado, ele tomou uma medida enérgica: vendeu imediatamente o sofá!

domingo, 22 de março de 2015


Ela sabia

Os números são declinantes: reeleição com 51,64%, apoio atual de 13% dos entrevistados (Datafolha de 16 e 17 de março) e somente 10% acham que ela não sabia da corrupção na Petrobrás. Os números são frios, mas o significado é quente. Pelando. Queimadura de terceiro grau.

Pacote anticorrupção é legal, mas diz respeito ao que pode ser feito daqui pra frente. Não é resposta ao que foi feito durante todos esses anos. E o que foi feito não é malfeito, é crime. O ministro Cardozo faz declaração de fé, mas não prova nada. A Secretaria de Comunicação acha que tudo pode ser resolvido com propaganda e, mesmo assim, dá uma resposta pífia.

Ela está nua, exposta, sem fala.

sábado, 21 de março de 2015


Resumo da semana em ordem alfabética (na falta de outra ordem)

Acordo de leniência, agente político, algemas, Brasília, Câmara dos Deputados, carceragem da PF do Paraná, cartel, colchonete, concorrência fraudulenta, construtoras, contatos políticos, corrupção, Curitiba, delação premiada, delator, depoimento, direito constitucional de ficar calado, doações declaradas à Justiça Eleitoral, documentos probatórios, esquema, executivos de empreiteiras, Força-Tarefa, diretor da Petrobrás, habeas corpus, inquérito, Justiça Federal, maior escândalo já relatado, Ministério Público Federal, não conheço e nunca estive com ele, obras futuras previstas, obras superfaturadas, Operação Lava Jato, Petrolão, Procuradoria Geral da República, PMDB, PSDB, PP, preso e investigado, prisão provisória, prisão temporária, propina, PT, repercussões políticas, Senado Federal, sms, superfaturamento, Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União, 1%, 2%, 3%...

sexta-feira, 20 de março de 2015


Que país é esse?

Para Aristóteles, o espanto é motivador da reflexão filosófica. “Que país é esse?” remete ao espanto. Espanto do Duque, da Lava Jato, espanto do cidadão pagador de impostos. Cada um com seu espanto!

Hoje de manhã, me espantei com a revelação premiada dos executivos da Camargo Corrêa de que mais quatro burocratas da Petrobrás estariam envolvidos no petrolão. A gente sabia que a lista é grande, mas a conclusão que tem se consolidado ultimamente é que a lista é inesgotável. Um motivo a mais para o espanto.

Cadê Aristóteles? A banalização do espanto matou a metafísica do petrolão.

quinta-feira, 19 de março de 2015


O piti do Cid Gomes

Foi o máximo o piti do Cid Gomes. Soltou as frangas. Homem de coragem, que fala o que quer sem se preocupar com as consequências. Sendo situação, cobrando coerência de quem aceita ser da situação mas não age como tal, detonou o Planalto. Fez mais contra a Dilma do que toda a oposição junta. Primeiro, dizendo que a presidente não consegue acabar com a corrupção porque os “achacadores” não deixam: isso equivale a dizer que a presidente não tem a força ou a vontade política suficiente. Deu o piti num momento de fragilidade do Planalto. Segundo, roubou a cena de Dilma, quando ela queria retomar a iniciativa política com o pacote anticorrupção. Em terceiro lugar, mostrou que a presidente não sabe escolher seus colaboradores.

Se todos os amigos de Dilma fossem como o Cid Gomes...