sexta-feira, 10 de abril de 2015


O povo é o dono, mas não pode saber de nada!

Ontem, novamente, ouviu-se a ladainha de que o governo sofreu mais uma derrota com a quebra de sigilo do BNDES. As explicações para a derrota também seguem as ladainhas de sempre: a base aliada está desorganizada, o novo coordenador político ainda não tomou pé da situação, o PMDB isso e aquilo...

O pressuposto não declarado é que a base aliada deve aprovar tudo o que for do interesse do governo (independente da análise de conteúdo) e rejeitar tudo que for contrário.

O deputado da base aliada não tem direito de pensar diferente do governo, de emitir juízo de valor independente, de avaliar as questões em função dos compromissos que ele assumiu com seus eleitores. Nada além nem nada aquém das determinações do Planalto.

Do ponto de vista do executivo, aferrado que está ao modo tradicional de pensar a estrutura política no Brasil, o modelo de Estado centralizado também é inquestionável, tratando em termos de correlação de forças aquilo que é constitucionalmente definido como estrutura de funcionamento da República.

Quem questiona o modelo centralizador é considerado inconfiável e passível de punição. Quem acata este modelo é uma pessoa normal.

É sintomático o que se passa com o BNDES. Trata-se de banco público, dinheiro público, patrimônio público. Mas o público não tem o direito de saber quais são suas opções e decisões mais importantes. Nem mesmo o Congresso tem esse direito. E a base aliada deve (segundo o Planalto, de acordo com a prepotência do executivo) apoiar a negação desse direito e impedir a quebra de sigilo do banco. É por isso que os deputados, por 298 votos contra 95, aprovaram uma emenda a uma medida provisória derrubando o sigilo dos financiamentos do BNDES.

Aplausos, mas não para a derrota do executivo. Aplausos para a vitória do equilíbrio dos poderes, aplausos para a quebra de um sigilo indecente.

A decência, neste caso, está na nudez. Que o BNDES se mostre em todo seu esplendor e em toda sua miséria!

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