quinta-feira, 2 de abril de 2015

A idade do menor

É periférica a discussão da idade que o menor deve ter para ser responsabilizado criminalmente pelos seus atos. Não digo que seja inútil combater as consequências. Mas não podemos nos esquecer das causas. Vivemos o mundo do imediato, do descartável e do consumo pelo consumo. Pelo imediatismo, abandonamos passado, futuro e projetos, cujas consequências para o menor são incalculáveis. Com o descartável, não vemos as possibilidades de um objeto, mas tão somente um momento de relacionamento limitado de posse. Já o consumismo nos coloca frente a frente com o menor infrator.

Uma sociedade consumista como a nossa pede um poder aquisitivo ilimitado. A constatação do caráter ilimitado do desejo de poder aquisitivo pode ser ilustrado com a ideia bem conhecida de que o pobre quer ficar rico e o rico quer ficar mais rico. Isso explica (em boa parte, pelo menos) duas tendências atuais: o workaholic e a apropriação por qualquer meio do que é dos outros. A roubalheira tem como causa inevitável a obsessão pelo dinheiro e pelo consumo. Não é a única causa, mas é a que está mais na moda.

Se a crise que o Brasil está vivendo é política e econômica, seu aspecto mais importante (e menos discutido, infelizmente) é o ético. Apesar de termos lideranças fortes com tendências variadas nos campos político e econômico, não temos liderança no campo dos valores. O governo está longe de exercer esse papel, até mesmo em nível conjuntural. Para refrear o consumo, aumenta-se a taxa de juros! Seria muito mais simples e econômico, o governo fazer um discurso do tipo:

“Cidadãos, comprem somente o indispensável! Diga não à compra do que você não precisa imediatamente. Se você as tem, pague suas dívidas! Economize! Ponha um dinheiro na poupança e só compre algum produto necessário quando puder pagar à vista! Assim você valoriza seu dinheiro. Aproveite a beleza natural da vida. Divirta-se com o belo! Dedique suas energias ao amor!”.

A aceitação de um mundo sem consumismo e sem apego ao dinheiro poderia levar muita gente (jovens de todas as idades e adultos) a abandonar a ansiedade de ganhar cada vez mais (não importa como...) e a gastar sempre mais (não importa com o que). A dedicação ao amor e ao belo vence a corrupção e a delinquência juvenil.


Discutir a idade do jovem não vai resolver o problema. Mudar os valores que regem nossa sociedade: esta sim é a questão.

Um comentário:

  1. Verdade, tanto é que por exemplo, qual a coerência entre a ''lei da palmada'' e essa redução da maioridade penal? Essa semana mataram um menino de 11 anos alegando que era bandido... Querem reduzir pra quantos anos, afinal? Dá medo...

    ResponderExcluir