quarta-feira, 25 de março de 2015


Manual de sobrevivência na cela

Não estou preocupado com o bem-estar, com a saúde mental ou com o conforto do pessoal que foi transferido da carceragem da PF para o Complexo Médico-Penal do Paraná. Tampouco estou com pena deles. Eles estão sendo acusados de crimes cuja base é o egoísmo exacerbado. As orientações abaixo de como sobreviver à cana apontam na direção de transformar essa experiência desagradável em uma oportunidade de serem menos egoístas.

1. É muito difícil compartilhar um espaço mínimo com pessoas que não fizeram a opção de viverem juntos. “O inferno é o outro” é a tese defendida por Sartre em “Entre quatro paredes”. Então é bom você aceitar a ideia de que vai viver no inferno por um tempo impossível de se prever a duração. Seja paciente e condescendente. Lembre-se de que você está aí para responder a sérias acusações. Ao primeiro sinal de corrupção, você poderia ter dito: “Tô fora! Aconselho vocês a saírem dessa furada”.

2. Organize o tempo. Defina um tempo de silêncio, um tempo de conversa, um tempo para ligar a TV e um tempo para dar aula (todo mundo sabe de alguma coisa que algum outro está interessado em aprender). No tempo do silêncio, reflita sobre a diferença entre egoísmo, espírito de coletividade e respeito à sociedade.

3. Faça uma lista de reivindicações como, por exemplo, visita íntima, cela individual, acesso a jornais, mais tempo de banho de sol, mais tempo de visita familiar, aparelho de DVD, acesso a uma capela a qualquer hora do dia. Na capela, pense no totalmente Outro, por intermédio do qual você pode aprender a respeitar o outro.

4. Não perca o humor. Não perca tempo pensando no que você está perdendo ficando ali entre paredes tão próximas umas das outras. Esqueça que você é riquinho.

5. Faça alguma coisa com as mãos, como pintar, desenhar ou modelar. Quando não estiver fazendo alguma coisa prática, leia livros de ficção, de preferência aqueles que edificam o ser humano. Abandone livros do estilo: “como enganar o povo” ou “como enriquecer ludibriando as instituições”.

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