Chegamos aqui trazidos pela
propaganda enganosa: e para onde vamos?
Cálculos
mais ou menos oficiais (não foi em toda cidade que a PM fez uma avaliação)
falam em mais de oitocentas mil pessoas nas ruas. Se esse número é bem menor do
que o de manifestantes em março, não se pode dizer que é pouca gente. O dado
mais importante porém é o da última pesquisa Datafolha que aponta um apoio de
75% da população às manifestações. O aumento do número de pessoas que apoiam os
atos comparado com o menor número de pessoas que se mobilizaram para ir às ruas
neste domingo evidencia algo que só pode ser compreendido com outro alto
índice: o de pessoas que querem, mas não acreditam que o impeachment será levado adiante. Se não vai dar certo,
por que ir às ruas?
A grande
incógnita, presente nas duas últimas grandes manifestações, é o rumo que a
insatisfação pode tomar nos próximos meses. Está evidente que o movimento vive
um impasse; na mesmice em que se encontra, não vai avançar. Em situações
históricas talvez semelhantes, o desdobramento de um movimento aparentemente
sem saída alimentou tendências opostas que, de um modo geral, assumiram o
desânimo ou a revolta. Para o governo é mais interessante o desânimo do que a
revolta, e é por isso que todos os porta-vozes oficiais, inclusive Dilma,
insistem que o movimento pacífico é democrático, mas que a violência não será tolerada.
Sendo de esquerda (???), a presidente sabe que a violência é parteira da
história (Engels). E, se houver parto, nascerá uma situação da qual a
presidente atual não fará parte.
A
insatisfação com esse governo é alta. Apesar de Dilma ter abandonado a reclusão
pós-eleitoral, sua presença recente na mídia não mudou o índice de rejeição do
governo, que permanece no patamar de 60% (ruim ou péssimo). A ideia falida é a
de que discursos mudam a realidade. Mas o fato é que mil palavras associadas a
mil minutos de exposição não vão melhorar o índice de inflação nem a oferta de
emprego! Mas esse governo chegou aí trazido pela publicidade, então eles acham
que a publicidade milagrosa resolve tudo!
Afora a
visão artificialmente otimista do governo, os economistas dizem que 2015 vai
ser ruim e 2016 ainda está cedo para se prever alguma coisa com alguma chance
de certeza. Como está claro que o mundo das maravilhas apresentado pelo PT
durante a campanha presidencial era propaganda enganosa, e como a situação
econômica tende a piorar até o final do ano, o descontentamento pode criar
desesperança, desilusão, desencanto, ou, por outro lado, pode assumir a forma
de revolta. Revolta contida, desorganizada, radical, revoltinha, revoltona:
ainda não dá para saber. Vai depender da alternativa que se apresentar para os
descontentes. O governo e o PT não têm alternativa aceitável no curto e no
médio prazo. Os políticos melhoraram um pouco na avaliação sobre a confiança da
população, mas ainda não há uma voz que canalize o descontentamento público.
Por outro lado, os black blocs estão
sumidos e calados, mas a esquerda radical e silenciosa pode começar a fazer
barulho de repente.
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