A idade do menor
É
periférica a discussão da idade que o menor deve ter para ser responsabilizado criminalmente
pelos seus atos. Não digo que seja inútil combater as consequências. Mas não
podemos nos esquecer das causas. Vivemos o mundo do imediato, do descartável e
do consumo pelo consumo. Pelo imediatismo, abandonamos passado, futuro e
projetos, cujas consequências para o menor são incalculáveis. Com o
descartável, não vemos as possibilidades de um objeto, mas tão somente um
momento de relacionamento limitado de posse. Já o consumismo nos coloca frente
a frente com o menor infrator.
Uma
sociedade consumista como a nossa pede um poder aquisitivo ilimitado. A
constatação do caráter ilimitado do desejo de poder aquisitivo pode ser
ilustrado com a ideia bem conhecida de que o pobre quer ficar rico e o rico
quer ficar mais rico. Isso explica (em boa parte, pelo menos) duas tendências
atuais: o workaholic e a apropriação por qualquer meio do que é dos outros. A
roubalheira tem como causa inevitável a obsessão pelo dinheiro e pelo consumo.
Não é a única causa, mas é a que está mais na moda.
Se a crise que o Brasil está vivendo é política e econômica, seu aspecto mais importante (e menos discutido, infelizmente) é o ético. Apesar de termos lideranças fortes com tendências variadas nos campos político e econômico, não temos liderança no campo dos valores. O governo está longe de exercer esse papel, até mesmo em nível conjuntural. Para refrear o consumo, aumenta-se a taxa de juros! Seria muito mais simples e econômico, o governo fazer um discurso do tipo:
“Cidadãos, comprem somente o indispensável! Diga não à compra do que você não precisa imediatamente. Se você as tem, pague suas dívidas! Economize! Ponha um dinheiro na poupança e só compre algum produto necessário quando puder pagar à vista! Assim você valoriza seu dinheiro. Aproveite a beleza natural da vida. Divirta-se com o belo! Dedique suas energias ao amor!”.
A aceitação de um mundo sem consumismo e sem apego ao dinheiro poderia levar muita gente (jovens de todas as idades e adultos) a abandonar a ansiedade de ganhar cada vez mais (não importa como...) e a gastar sempre mais (não importa com o que). A dedicação ao amor e ao belo vence a corrupção e a delinquência juvenil.
Discutir a idade do jovem não vai resolver o problema. Mudar os valores que regem nossa sociedade: esta sim é a questão.
Verdade, tanto é que por exemplo, qual a coerência entre a ''lei da palmada'' e essa redução da maioridade penal? Essa semana mataram um menino de 11 anos alegando que era bandido... Querem reduzir pra quantos anos, afinal? Dá medo...
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