Manual
de sobrevivência na cela
Não
estou preocupado com o bem-estar, com a saúde mental ou com o conforto do
pessoal que foi transferido da carceragem da PF para o Complexo Médico-Penal do
Paraná. Tampouco estou com pena deles. Eles estão sendo acusados de crimes
cuja base é o egoísmo exacerbado. As orientações abaixo de como sobreviver à
cana apontam na direção de transformar essa experiência desagradável em uma
oportunidade de serem menos egoístas.
1.
É muito difícil compartilhar um espaço mínimo com pessoas que não fizeram a
opção de viverem juntos. “O inferno é o outro” é a tese defendida por Sartre em
“Entre quatro paredes”. Então é bom você aceitar a ideia de que vai viver no
inferno por um tempo impossível de se prever a duração. Seja paciente e
condescendente. Lembre-se de que você está aí para responder a sérias
acusações. Ao primeiro sinal de corrupção, você poderia ter dito: “Tô fora!
Aconselho vocês a saírem dessa furada”.
2.
Organize o tempo. Defina um tempo de silêncio, um tempo de conversa, um tempo
para ligar a TV e um tempo para dar aula (todo mundo sabe de alguma coisa que
algum outro está interessado em aprender). No tempo do silêncio, reflita sobre
a diferença entre egoísmo, espírito de coletividade e respeito à sociedade.
3.
Faça uma lista de reivindicações como, por exemplo, visita íntima, cela
individual, acesso a jornais, mais tempo de banho de sol, mais tempo de visita
familiar, aparelho de DVD, acesso a uma capela a qualquer hora do dia. Na capela,
pense no totalmente Outro, por intermédio do qual você pode aprender a
respeitar o outro.
4.
Não perca o humor. Não perca tempo pensando no que você está perdendo ficando
ali entre paredes tão próximas umas das outras. Esqueça que você é riquinho.
5.
Faça alguma coisa com as mãos, como pintar, desenhar ou modelar. Quando não
estiver fazendo alguma coisa prática, leia livros de ficção, de preferência
aqueles que edificam o ser humano. Abandone livros do estilo: “como enganar o
povo” ou “como enriquecer ludibriando as instituições”.
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