O azul de Miró
Formidável mudança operada por Miró, no outono de
1924, com a primeira pintura monocromo azul, Banhista, e logo depois com A
Sesta, ainda mais elíptica: os numerosos motivos gráficos das telas
precedentes constituem agora seu motivo. A cor azul do fundo – esse azul caro a
Miró, o azul do céu e da água misturados (a cena aludida na Sesta se passa à beira-mar) – é, a
partir de então, para ele, a “cor de seus sonhos”.
Por sua flutuação leitosa, ele evoca, na Sesta, a agitação e a incerteza, e por
sua consistência cremosa, a volúpia dessa hora de abandono.
Miró inventa um espaço de palpitação visual e poética,
cuja plasticidade em movimento é exacerbada pela precisão das inscrições negras
– letras, linhas, pontos – atenciosamente caligrafadas e colocadas como em uma
partitura musical. Trata-se de um “campo magnético”, quer dizer, de uma cartografia
natural, liberada de todo constrangimento descritivo e racional, e onde se
movem, entrando em enigmática fusão, os resíduos de uma realidade esquecida (Extrato, em tradução livre, do catálogo Coleção Arte
Moderna, Museu Nacional de Arte Moderna, Centro Pompidou, Paris, 2007).
Miró, A Sesta (1925) (detalhe) |
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